top of page

Fobias

Márcio Antônio Altilio Moreira

Psicólogo - CRP 04/13451

Definição

As fobias (Phóbos, do Grego) caracterizam-se por um medo ou aversão exagerada quando certos objetos, tipos de objeto ou situações se fazem presentes, imaginados ou mencionados. Apesar de classificados no DSM-IV como transtornos de ansiedade, possuem características especiais de só se manifestarem em situações determinadas.

Para se classificar um medo como fobia é necessário verificar se causa perturbação significativa à vida do indivíduo, impedindo-o de realizar as coisas normais do dia a dia. Também podemos considerar como fobia os medos que, embora possam ser evitados sem causar graves consequências, são sabidamente irracionais, tais como: medo de animais ou insetos que não oferecem perigo real; de andar de elevador, avião ou qualquer meio de transporte de passageiros; de procedimentos médicos ou odontológicos, inclusive injeção; de situações comuns como estar em lugares fechados ou lugares altos, tais como quartos pequenos ou andares altos em prédios. Nessas situações, quando se pode evitar estar nos lugares temidos, normalmente não causam prejuízo significativo e não se procura tratamento. Entretanto, o fato de não se tratar pode permitir a fobia se generalizar, alcançando situações que antes não causavam nenhum desconforto.

É necessário esclarecer que o medo cumpre uma função de preservação e deve ser considerado normal quando se refere as situações que cause real perigo a integridade do indivíduo. Assim sendo, não se considera fobia o medo natural de animais selvagens, cães ferozes, inundações, de se expor perigosamente em lugares altos sem segurança adequada, quando diante dessas situações. No entanto, se o medo existe na ausência dessas situações, ou seja, quando não se está exposto ao perigo, aí sim, se pode configurar como uma fobia. Ter medo diante uma fera é fato real, no entanto, ter medo de uma fera que não está presente no momento, isso é patológico.

De acordo com o DSM-IV (p. 419) as fobias são classificadas em três tipos:

01- Agorafobia - é a ansiedade ou esquiva a locais ou situações das quais poderia se difícil (ou embaraçoso) escapar ou nas quais o auxílio poderia não estar disponível, no caso de um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico.

02- Fobia Específica - caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada pela exposição a um objeto ou situação específicos e temidos, frequentemente levando ao comportamento de esquiva.

03- Fobia Social - caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada pela exposição a certos tipos de situações sociais ou de desempenho, frequentemente levando ao comportamento de esquiva.

A seguir, com fim ilustrativo, apresentamos uma relação de fobias com seus nomes de origem e que estão incluídos nos tipos classificados acima:

  • Acarofobia - tipo de hipocondria em que o indivíduo apresenta medo mórbido de contrair sarna;

  • Acrofobia - medo mórbido de alturas;

  • Agorafobia - medo mórbido de se achar sozinho em grandes espaços abertos ou de atravessar lugares públicos;

  • Amaxofobia - medo mórbido de se encontrar ou viajar em qualquer veículo;

  • Astrofobia - sentimento de pavor aos trovões e aos relâmpagos;

  • Basiofobia - medo doentio de cair, ao andar;

  • Cinofobia - aversão ou temor doentio de cães;

  • Claustrofobia - medo mórbido de permanecer em espaços fechados;

  • Ergofobia - horror mórbido ao trabalho;

  • Fobofobia - medo dos próprios medos;

  • Gimnofobia - repulsa ou medo ao nudismo;

  • Heliofobia - Aversão patológica à luz do sol;

  • Hematofobia - aversão ao sangue; medo mórbido de sangue; hemofobia;

  • Hidrofobia - aversão ou temor mórbido aos líquidos;

  • Hipnofobia - medo de dormir, terror ou medo durante o sono;

  • Maieusofobia - medo doentio do parto;

  • Militofobia - horror à vida ou ao regime militar, ou aos militares em geral;

  • Misofobia - medo mórbido de sujeira, imundícies ou de contaminação;

  • Monofobia - medo mórbido da solidão;

  • Necrofobia - medo mórbido da morte ou dos mortos;

  • Nictofobia - medo mórbido da noite; horror à escuridão;

  • Nosofobia - medo mórbido de determinada doença;

  • Oclofobia - medo mórbido da multidão, da plebe;

  • Pirofobia - pavor mórbido ao fogo;

  • Tafofobia - terror doentio de ser sepultado vivo;

  • Tanatofobia - temor doentio da morte;

  • Topofobia - medo mórbido de certos lugares;

  • Uiofobia - aversão aos próprios filhos;

  • Xenofobia - desconfiança, temor ou antipatia por pessoas estranhas ao meio daquele que as ajuíza, ou pelo que é incomum ou vem de fora do país; xenofobismo;

  • Zoofobia - horror, medo doentio de qualquer animal;

 

Características Gerais

01- Agorafobia

Segundo o DSM-IV “a característica essencial da Agorafobia é uma ansiedade acerca de estar em locais ou situações das quais escapar poderia ser difícil (ou embaraçoso) ou nas quais o auxílio pode não estar disponível na eventualidade de ter um Ataque de Pânico ou sintomas tipo pânico (p. ex., medo de ter um ataque súbito de tontura ou um ataque de diarreia.”

A Agorafobia normalmente não é um transtorno isolado, por isso é tratada no curso de um transtorno associado. Na maioria das vezes ela ocorre conjuntamente a um Transtorno de Pânico, mas sintomas de agorafobia também são encontrados em indivíduos com certas condições médicas devido a preocupações realistas acerca de ficarem incapacitados (p. ex. desmaio em um indivíduo com ataques isquêmicos transitórios) ou embaraçados (p. ex. diarreia em um indivíduo com doença de Crohn), conforme o DSM-IV sinaliza. Nessas condições não há o que falar em fobia, pois enseja uma situação em que a necessidade de apoio é uma realidade. Para o diagnóstico de Agorafobia, no entanto, somente serão considerados os sintomas que não se apoiarem em medos reais devido à condição médica geral ou não for mais bem explicado por outra patologia, tal como medo de contaminação em um Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC), medo de se afastarem de casa ou de entes queridos no Transtorno de Ansiedade de Separação.

02- Fobia Específica

Segundo o DSM-IV “a característica essencial da Fobia Específica é o medo acentuado e persistente de objetos ou situações claramente discerníveis e circunscritos. A exposição ao estímulo fóbico provoca, quase que invariavelmente, imediata resposta de ansiedade. Esta resposta pode assumir a forma de um Ataque de Pânico, (vide Síndrome de Pânico) ligado ou predisposto pela situação”. As pessoas acometidas pela fobia, excetuando-se as crianças, são capazes de reconhecer esse medo como irracional, entretanto não são capazes de enfrentá-los sozinhos. O comportamento mais utilizado é evitar se defrontar com as situações em que o agente causador da fobia possa estar presente. Assim, se o medo se refere ao uso de elevadores, procura-se formas alternativas para evitar o constrangimento em ter que usá-lo. Do mesmo modo acontece com quem teme viajar de avião, ficar em ambientes fechados etc. Para se classificar como fobia, no entanto, é necessário que o fato interfira significativamente na vida diária, causando grande desconforto.

Subtipos

O DSM-IV divide a Fobia Específica em cinco subtipos:

Tipo Animal: o medo é causado por animais ou insetos; em geral tem início na infância.

Tipo Ambiente Natural: o medo é causado por objetos ou situações do ambiente natural, tais como tempestades, alturas ou água; geralmente inicia na infância.

Tipo Sangue-Injeção-Ferimentos: o medo é causado por ver sangue ou ferimentos, por receber injeção ou submeter-se a outros procedimentos médicos invasivos.

Tipo Situacional: o medo é causado por uma situação específica, como andar em transportes coletivos, túneis, pontes, elevadores, aviões, dirigir ou permanecer em locais fechados.

Outro Tipo: o medo é causado por outros estímulos, que podem incluir: medo ou esquiva de situações que poderiam levar a asfixia, vômitos ou contração de uma doença; fobia a “espaço” (isto é, o indivíduo teme cair se estiver afastado de paredes ou outros meios de apoio físico), e medo de sons altos ou personagens em trajes de fantasia, mais comuns em crianças.

Outras informações

As fobias variam conforme a cultura, etnia, nível social e idade dos indivíduos. Normalmente as fobias têm início na infância ou no início da adolescência. Podem-se iniciar através de eventos traumáticos (ser atacada por algum animal, ser exposta a situações de risco, ficar trancada em um quarto escuro, ficar presa em um elevador etc.) ou através de atitudes dos pais, cuidadores ou pelos meios de comunicação descrevendo fatos que possam ser gravados na mente das crianças de modo a perturbá-las (medo de assombração, de ser sequestrada, de se acidentarem etc.) Nem sempre sua manifestação é imediata, pode ficar latente e só se manifestar quando o indivíduo se deparar com situações em que as emoções e sensações físicas se assemelharem às situações vivenciadas em alguma fase anterior na vida do sujeito. Esse novo fato gerador pode vir a ser um novo objeto/situação temida, que substitui o que havia dado origem ao trauma gravado na mente. Por exemplo, ter sido presa em um quarto escuro quando criança, as emoções e sensações físicas/fisiológicas podem ficar gravadas na mente, mas com o apoio dos pais isso pode ser vencido na infância. No entanto, em algum momento do futuro, sob condições semelhantes, o indivíduo pode voltar a sentir medo, tal como começar a temer ficar preso em elevador quando faltar energia elétrica, mesmo que isso nunca tenha ocorrido. O simples imaginar a situação pode desencadear as mesmas emoções e sensações ocorridas quando havia ficado presa em um quarto escuro. Dessa forma, o medo que sentiu quando criança em ficar trancada em um quarto escuro é substituído por um novo medo, o de ficar presa em um elevador.

03- Fobia Social

Segundo o DSM-IV “caracteriza-se por ansiedade clinicamente significativa provocada pela exposição a certos tipos de situações sociais ou de desempenho, frequentemente levando ao comportamento de esquiva”. Ou seja, o indivíduo pode sentir medo intenso diante de situações em que possa estar sendo observado por outras pessoas, ser vítima de comentários ou sofrer alguma humilhação em público, tal como falar para uma plateia, apresentar um trabalho em sala de aula, submeter-se a uma prova oral, conversar diante de mais pessoas, participar em atividades de grupo, dançar ou em qualquer situação em que possa ser ou se sentir avaliado. Normalmente essas situações são evitadas ou suportadas com pavor e muitas vezes pode assumir a forma de um Ataque de Pânico.

As reações psicológicas são preocupações sobre o que os outros irão pensar deles, ficam embaraçados ao falar, temem ficar ruborizados ou que percebam tremores em suas mãos. Muitas vezes evitam comer, beber ou escrever em público com receio de que percebam esses tremores.

As reações fisiológicas podem ser diversas em que destacamos: rubor facial, sudorese, tensão muscular, tremores, palpitações e até mesmo desconforto gastrintestinal e diarreia.

Tratamento

O tratamento das fobias pode ser farmacológico, psicoterápico ou misto. No tratamento farmacológico o médico poderá usar ansiolíticos para minimizar a ansiedade. O tratamento psicoterápico, no entanto, pode ser realizado por diversas abordagens, com bons resultados. Os médicos normalmente indicam a TCC ou a psicanálise, mas outras diversas abordagens também podem levar a cura. Entretanto, nem sempre é fácil, pois uma fobia pode ser somente a ponta do iceberg e dessa forma o tratamento pode se estender até que o indivíduo adquira condições de fluir na vida. 

Psicoterapia

Aqui farei referência somente às abordagens que trabalho. O EMDRBrainspotting e a hipnose podem oferecer resultados expressivos em curto tempo de tratamento. No EMDR serão desensibilizadas as memórias traumáticas e depois reprocessadas. Para isso se utiliza as lembranças que o paciente tem das situações que causam ansiedade e se trabalha as emoções, sensações físicas e os aspectos cognitivos associados. No Brainspotting o paciente foca sua atenção no evento mais perturbador e o psicoterapeuta localiza os pontos cerebrais associados a ele, estimulando seu processamento. Em outras situações é necessário um tratamento com ênfase no comportamento e/ou na capacidade racional e a utilização da Terapia Cognitivo-comportamental - TCC pode oferecer melhores resultados. Na hipnose pode-se trabalhar com regressão ao fato original e/ou induzir um transe em que são apresentadas sugestões visando à remissão dos sintomas. Para todas as abordagens utilizadas acima, ainda se pode trabalhar à moda ericksoniana, levando em consideração os aspectos cognitivos e comportamentais.

Embora as fobias específicas sejam na maioria das vezes simples, isto é, a situação que causa o medo é apenas um fator, existem algumas que podem ser mais complexas e deverão ser trabalhadas como um processo. As fobias de avião, por exemplo, se encaixam nesta situação. A ansiedade pode ser gerada em diversas fases até a realização do voo. A partir do momento da decisão de viajar, da compra da passagem, da chegada ao aeroporto, na sala de embarque, ao entrar no avião, na decolagem, durante o voo, na aterrissagem e mesmo após chegar ao destino, o medo de enfrentar a situação na volta para casa. Devido a essa complexidade, muitas vezes serão trabalhadas essas fases com ênfase nas situações em que a fobia fica mais intensa. É feito uma simulação da viagem com todos os aspectos inerentes e processadas as etapas que causam temor. Depois se estimula todo o processo até verificar que não existem mais tensões em nenhuma das fases. Os processos podem fazer parte de qualquer fobia, sendo mais comuns quanto à necessidade se submeter a um processo cirúrgico, dirigir ou fazer alguma viagem por qualquer meio de transporte.

Nas fobias sociais o tratamento é semelhante ao de uma fobia de avião, pois em muitas situações o que ocorre é também um processo. Por exemplo, ao ter que apresentar um trabalho na escola a perturbação já se instala no momento em que o fato foi notificado, continua durante todo o tempo em que se elabora o trabalho e se intensifica quando se tem que apresentá-lo. Isso também ocorre ao ter que assinar um documento no cartório, ir a um encontro com alguém que desejamos muito conquistar, ir a uma entrevista visando obter um emprego, almoçar com pessoas importantes ou mesmo colegas de trabalho etc.

A escolha das técnicas ou das abordagens leva em conta a personalidade do indivíduo. Para melhor compreensão sugiro a leitura das abordagens neste site.

 

Bibliografia

  1. ARASI, Diana et al. Trauma e EMDR – Uma nova abordagem terapêutica. Brasília: Nova Temática, 2007.

  2. DSM-IVTM – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad. Cláudia Donelles; – 4ª ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  3. GRAND, David. Cura emocional em velocidade máxima – o poder do EMDR (dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares). Brasília: Editora Nova Temática. 2007.

  4. LEVINE, Peter A. O Despertar do Tigre – curando o trauma. São Paulo: Summus, 1999.

  5. ROBLES, Teresa. Concerto para quatro cérebros em psicoterapia. Tradução de Manuel Angel Valencia Rodrigues. Belo Horizonte: Editorial Diamante, 2001.

  6. ROSSI, Ernest Lawrence Ph.D. A Psicobiologia da cura mente-corpo. Tradução de Ana Rita P. de Moraes. Campinas: Editorial Psy, 1997.

  7. SHAPIRO, Francine. EMDR – Dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares. Brasília: Editora Nova Temática, 2007.

  8. TenDan, Hans. Cura Profunda. São Paulo: Summus, 1997.

bottom of page