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T E P T - Transtorno de Estresse Pós-traumático

Márcio Antonio Altilio Moreira
Psicólogo - CRP 04/13451

Definição

Segundo o DSM-IV “a característica essencial do Transtorno de Estresse Pós-Traumático - TEPT é o desenvolvimento de sintomas característicos após a exposição a um estressor traumático extremo, envolvendo a experiência pessoal direta de um evento real ou ameaçador que envolve morte, sério ferimento ou outra ameaça à própria integridade física”. (p. 448-9). Ainda, de acordo com o manual, “o conhecimento sobre morte violenta ou inesperada, ferimento sério ou ameaça de morte ou ferimentos experimentados por um membro da família ou outra pessoa em estreita associação com o indivíduo.” (p. 449). “A resposta ao evento deve envolver intenso medo, impotência ou horror (em crianças, a resposta pode envolver comportamento desorganizado ou agitado)”. (ibid p.449). Nos casos em que o estressor é de origem humana (estupro, tortura etc.) o transtorno pode ser especialmente grave ou duradouro, podendo aumentar em função da proximidade do estressor.

Sintomas

São numerosos os sintomas que podem apresentar os indivíduos que sofrem com o transtorno, dentre eles destacamos: recordações e sonhos repetitivos e aflitivos relacionados ao evento, flashbacks (reviver o fato como se ainda estivesse ocorrendo), dificuldades em dormir, em se concentrar, irritabilidade, evitação de locais que lembrem o evento, ausência de expectativa, desinteresse. Segundo Rangé, “o paciente ainda pode apresentar intenso sofrimento psicológico e/ou reatividade fisiológica quando é exposto a indícios internos ou externos que simbolizam ou lembram algum aspecto do evento traumático”. (Rangé, p. 258). O sofrimento psíquico é intenso, fazendo com que o indivíduo evite o convívio social, bem como qualquer situação que se assemelhe ao evento ou tragam sensações físicas análogas (p.ex. se o fato ocorreu em um dia de chuva o TEPT pode ser agravado nesta situação; se foi ocasionado por alguém trajando uniforme, a simples presença de alguém uniformizado pode disparar as mesmas sensações do momento do evento traumático).

Em alguns casos mais graves podem ocorrer alucinações auditivas (isto é, ouvir sons diversos, murmúrios vozes que não se encontram presentes) e ideação paranoide (sentimento de estar sendo perseguido por alguém ou alguma entidade). Em outras situações indivíduos submetidos a tragédias, podem vir a se sentirem culpados por terem sobrevivido ou pelas coisas que fizeram para sobreviver. Casos como, por exemplo, atropelamento com vítima fatal, o motorista pode se sentir imensamente culpado, mesmo quando inocentado pelos que presenciaram a cena. Outras vezes podem sentir raiva pela imprudência da vítima.

Alguns sintomas tendem mais a ocorrer com maior frequência quando submetido a um estressor humano (abuso físico ou sexual, espancamento, tortura). Nestes casos pode haver “prejuízo na modulação do afeto, comportamento autodestrutivo e impulsivo, sintomas dissociativos, queixas somáticas, sensações de inutilidade, vergonha, desespero ou desamparo, sensação de dano permanente, perda de crenças anteriormente mantidas, hostilidade, retraimento social, sensação de constante ameaça, prejuízo no relacionamento com os outros ou mudança nas características anteriores da personalidade do indivíduo”. (DSM-IV, p. 450.)

Sintomas psicossomáticos

Levine relata que os sintomas traumáticos não afetam apenas a mente, podendo afetar a saúde física. Quando não há causa física, provavelmente a causa se encontra no estresse desencadeado por um trauma. O trauma pode ocasionar cegueira, surdez, mudez, paralisias, dores crônicas, doenças respiratórias, gastrintestinais, TPM grave, enxaquecas e diversas outras manifestações psicossomáticas. Segundo ele, “qualquer sistema físico capaz de conter a ativação não descarregada, provocada pelo trauma, torna-se uma presa fácil”. (Levine, p. 146)

Quanto à duração dos sintomas

De acordo com o DSM-IV (p. 453) a duração dos sintomas do trauma pode ser classificada conforme abaixo:
Agudo – O trauma é considerado agudo quando a duração dos sintomas é inferior a 3 meses.
Crônico – O trauma é considerado crônico quando a duração dos sintomas é superior a 3 meses.
Com início tardio – Quando decorreram pelo menos 6 meses entre o evento traumático e o início dos sintomas.

 

Prevalência

Considerando a população dos Estados Unidos, de acordo com o DSM-IV, a incidência do TEPT é de aproximadamente 8% da população total. No entanto, nem todas as pessoas que foram expostas a estressores intensos ficam traumatizadas. Então, o que pode causar o transtorno? Peter Levine (p. 35-37) cita um acontecimento envolvendo 26 crianças (de 5 a 15 anos) que foram sequestradas de seu ônibus escolar e aprisionadas em um trailer enterrado sob centenas de quilos de sujeira e pedras por cerca de 30 horas. Segundo Bob Barkelay (vítima de 14 anos) o teto começou a ruir sobre eles. As crianças que compreenderam a gravidade da situação se puseram a gritar. Neste momento ele pediu ajuda a outro menino para cavar um túnel e escaparem. Bob foi capaz de responder à crise e permanecer mobilizado durante a fuga. Apesar de as outras crianças também terem fugido, muitas delas pareciam sentir mais medo de fugir do que serem soterradas. Elas permaneceram imóveis (congelamento).

Como resultado disso quase todas as crianças apresentaram os efeitos deletérios do trauma, o que menos sentiu isso foi Bob. Segundo Levine, isso provavelmente aconteceu por ele ter sido “capaz de continuar em movimento e fluir pela resposta de imobilidade que sobrecarregou e incapacitou completamente os outros”. (Levine, p. 37).

O que Levine nos apresenta é que se formos capazes de fluir pelo trauma e completar as respostas instintivas podemos evitar que o sistema nervoso fique sobrecarregado pela energia não descarregada e pelo medo que surge a partir do evento traumático. Ser capaz de agir, lutar ou fugir é a chave para a descarga dessas energias. O congelamento, por sua vez, é causa dos sintomas psicológicos e fisiológicos.

De acordo com Kolb (1987), citado por Rangé (p.258) “a estimulação excessiva sofrida nos eventos traumáticos pode causar dano ou alteração das rotas neuronais”. Entretanto, mesmo neste modelo biológico os eventos traumáticos produzem consequências psicobiológicas.  De acordo com ele, “são capazes de produzir mudanças de longo termo no cérebro, aparentemente associadas a mudanças no funcionamento neuroadrenérgico e serotoninérgico, no eixo hipotálamo-pituitário-adrenal e no sistema dopaminérgico/opioide endógeno”. (ibid p.259)

Para ter uma visão mais ampla sobre traumas, visite o link: traumas

Comorbidades

Podem ocorrer simultaneamente quadros de depressão, Transtorno Obsessivo-compulsivo, Síndrome de Pânico, fobias, abuso de substâncias e em algumas situações alterações na personalidade do indivíduo.

A Síndrome de Estocolmo

É uma variação do TEPT, que pode acometer pessoas vítimas de sequestros, raptos, prisioneiros de guerra, pessoas mantidas em cativeiro por familiares ou com mulheres e crianças submetidas à violência doméstica. As pessoas que sofrem desta síndrome terminam por se identificar e até mesmo por gostar daqueles que os sequestram, em um gesto desesperado e em geral inconsciente de preservação pessoal. Em alguns casos as vítimas o auxiliam a obter seu intento e temem por interferências externas que possam pôr fim a essa pretensa segurança. Entretanto, a vítima tem consciência de seu estado e em casos de cativeiro prolongado a maioria delas tenta escapar aproveitando um descuido do sequestrador.

Esta denominação se deve a um assalto ocorrido em Estocolmo em agosto de 1973. As vítimas, após serem libertadas do cativeiro que durou seis dias, continuaram a defender os sequestradores e se mostraram indecisas nos processos judiciais. Após o término do processo duas vítimas se casaram com os criminosos.

Essa síndrome se caracteriza pelos seguintes sintomas:

1-  Existe uma relação de severo desequilíbrio de poder na qual o algoz dita aquilo que a vítima pode e não pode fazer;
2-  Há  ameaça de morte ou danos físicos aos prisioneiros por parte do algoz;
3-  Existe um instinto de autopreservação por parte da vítima.

 

Embora tal diagnóstico não conste nem no DSM-IV e nem no CID-10, passou a ser utilizado sempre com relação a tais situações.


É importante salientar que os sintomas são consequência de um estresse físico e emocional extremo.

Tratamento

Os profissionais que lidam com esse transtorno são médicos psiquiatras ou neurologistas, que prescrevem medicação para melhorar os sintomas causados pelo trauma. Em muitas situações, sem essa ajuda, não é possível se levar uma vida normal. O auxílio psicoterápico, no entanto, pode ser a forma derradeira para conduzir à cura completa. Dessa forma, é ideal que o paciente faça um tratamento conjunto com medicação e psicoterapia.

Psicoterapia

Embora com frequência se indique a TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental para esses tipos de tratamento, o EMDR e Brainspotting podem oferecer resultados mais expressivos e em menor tempo de tratamento. Da mesma maneira que ocorre com a Síndrome de Pânico, as memórias do TEPT encontram-se armazenadas no sistema límbico-hipotalâmico-hipofisário, que faz parte do cérebro primitivo, ou no próprio corpo. Assim, é necessário que se utilize uma abordagem que alcance o cérebro primitivo de modo a dessensibilizá-las ou descarregá-las e permitir o livre fluxo dos impulsos nervosos.

O tratamento se desenvolve através da lembrança do fato gerador acessando suas emoções, crenças e sensações somáticas, a fim de promover sua dessensibilização. Depois se fortalece os aspectos positivos do indivíduo, funcionando como uma espécie de vacina para futuras situações traumáticas.

Como cada indivíduo é único e possui necessidades diferentes, vale salientar que muitas vezes a utilização dessas técnicas pode obter a remissão completa dos sintomas em poucas sessões, mas pode haver necessidade de se trabalhar os aspectos cognitivos e comportamentais envolvidos.

Bibliografia

  1. ARASI, Diana et al. Trauma e EMDR – Uma nova abordagem terapêutica. Brasília: Nova Temática, 2007.

  2. DSM-IVTM – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad. Cláudia Donelles; – 4ª ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  3. GRAND, David. Cura emocional em velocidade máxima – o poder do EMDR (dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares). Brasília: Editora Nova Temática. 2007.

  4. LEVINE, Peter A. O Despertar do Tigre – curando o trauma. São Paulo: Summus, 1999.

  5. RANGÉ, Bernard. Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais. Porto Alegre: Artmed, 2001

  6. ROBLES, Teresa. Concerto para quatro cérebros em psicoterapia. Tradução de Manuel Angel Valencia Rodrigues. Belo Horizonte: Editorial Diamante, 2001.

  7. ROSSI, Ernest Lawrence Ph.D. A Psicobiologia da cura mente-corpo. Tradução de Ana Rita P. de Moraes. Campinas: Editorial Psy, 1997.

  8. SHAPIRO, Francine. EMDR – Dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares. Brasília: Editora Nova Temática, 2007.

  9. TenDan, Hans. Cura Profunda. São Paulo: Summus, 1997.

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