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Obesidade e sobrepeso

Márcio Antônio Altilio Moreira

Psicólogo - CRP 04/13451

Segundo o Consenso Latino-Americano sobre obesidade, podemos definir obesidade “como a acumulação excessiva de gordura em uma magnitude que compromete a saúde. É uma doença crônica que é acompanhada de múltiplas complicações, como diabetes mellitus, hipertensão arterial, dislipidemia, distúrbios músculo-esqueléticos, o aumento da incidência de alguns tipos de câncer e mortalidade”.


Quando se aborda esse tema vem logo a nossa mente questões ligadas a regimes e atividades físicas. No entanto, a maioria das pessoas que decide fazer um tratamento através de dietas, medicação e atividades físicas não consegue manter o peso que atingiram durante o processo quando cessa a dieta e o tratamento farmacológico. Isso normalmente ocorre porque a obesidade não é um problema isolado, mas o resultado de diversos fatores associados. A obesidade decorre da combinação de fatores genéticos, endócrinos, nutricionais, sedentarismo, farmacológicos, socioculturais e psicológicos. Vejamos resumidamente cada um deles.
 
Genéticos


As pesquisas recentes apontam para uma influência genética no acúmulo de gordura, principalmente visceral, tendo sido identificadas mais de 20 genes. Apesar de algumas pesquisas apontarem para uma participação do fator genético em torno de 25%, outras contabilizam importância bem superior. Entretanto, embora o fator genético possa contribuir com um percentual elevado, não se conseguiu estabelecer um gene da obesidade, mas sim que a obesidade parece ser o resultado de complexas interações entre vários genes e do ambiente.
 
Endócrinos


Alguns distúrbios endócrinos podem predispor o indivíduo à obesidade e necessitam de tratamento adequado. Dentre eles podemos citar:

  • Anormalidades de secreção da insulina;

  • Hipotireoidismo (diminuição de hormônio na Tireoide);

  • Hipercortisolismo funcional;

  • Hipogonadismo secundário (falta de estrogênios na mulher e testosterona no homem) que favorece o acúmulo excessivo de gordura visceral;

  • Deficiência de hormônio do crescimento.

 

Nutricionais


A relação alimentação/gasto energético é um dos principais fatores desencadeantes da obesidade. A alimentação adequada é a que supre as necessidades do organismo em manter as atividades vitais e as atividades desenvolvidas pelo indivíduo. Dessa forma uma pessoa sedentária deveria se alimentar com quantidade muito inferior a de um atleta, por exemplo. Como as pessoas têm características físicas diferentes, as necessidades alimentares também são diferentes. É importante notar que um mesmo indivíduo terá necessidades alimentares diferentes ao longo dos anos, pois o gasto energético varia de acordo com a idade e as atividades exercidas pelo sujeito. 


De qualquer modo a alimentação deve ser composta por todos os tipos de alimentos, quais sejam: proteínas, fibras, gorduras saturadas e polinsaturadas, hidratos de carbono, sal, açúcar, vitaminas e sais minerais. O que deve variar é a quantidade de cada um deles. Por isso, é importante para quem deseja emagrecer e se manter magro, aprender a forma mais correta de se alimentar de acordo com seu estilo de vida.


Dentre as causas mais comuns de aumento de peso ligadas à nutrição, podemos destacar:

  • Compulsão alimentar;

  • Hábitos incorretos de alimentação;

  • As questões socioculturais ligadas à alimentação;

  • Alimentação em horários irregulares

 

Em alguns casos é possível, através de mudanças de hábitos e aplicação dos conhecimentos sobre o modo correto de se alimentar, obter sucesso no processo de emagrecimento. Entretanto, nos casos de Compulsão Alimentar, normalmente é necessária intervenção médica e/ou psicológica.
De qualquer forma, a aprendizagem sobre uma alimentação correta é extremamente importante para a saúde geral do indivíduo.
 
Sedentarismo


Outro fator importante relacionado à obesidade é o sedentarismo. O organismo necessita de atividade física para equilibrar o gasto calórico. Pessoas obesas, em geral, são menos ativas e consomem menos calorias.


O papel que a atividade física tem na prevenção e tratamento da obesidade ainda não está totalmente esclarecido. Dependendo da maneira que a atividade física afeta as reservas de gordura corporal, há vários modos de prevenção, no ganho de peso, para evitar a obesidade. Três são os caminhos através dos quais a atividade física pode influenciar a gordura corporal: o aumento do gasto total de energia, o equilíbrio no balanço dos macronutrientes (em particular das gorduras) e o ajuste entre a da energia ingerida e a gasta. Estudos experimentais mostram que a atividade física regular melhora a composição corporal. Atualmente, há evidências científicas consistentes de que a atividade física regular traz amplos benefícios para a saúde física e mental, aumentando sua participação na promoção da saúde e na prevenção de doenças.
 
Farmacológicos


“Vários medicamentos podem causar ganho de peso: os glicocorticoides, antidepressivos tricíclicos (sobretudo amitriptilina), ciproeptadina, fenotiazinas, progestinas, como medroxiprogesterona e lítio. É sabido que o ganho de peso e aumento da fome, que ocorre quando você para de fumar, demonstra que a nicotina tem um efeito supressor do apetite”. (Consenso Latino-Americano de obesidade).


Entretanto o uso de certas substâncias também pode auxiliar no controle da fome e no aumento do metabolismo, facilitando o processo de emagrecer. O uso de fármacos deverá ter monitoramento médico e usado apenas durante um período limitado. Por essa razão é que se deve trabalhar todos os outros fatores, para que ao cessar o uso da medicação não se torne a engordar.
 
Socioculturais


A maneira como o indivíduo foi criado no ambiente familiar e sua relação com o meio sociocultural são fatores importantes a serem considerados. Temos que algumas famílias privilegiam as comemorações com mesa abastada, utilizam como moeda de troca com os filhos o uso de guloseimas, vinculam premiações à alimentação, bem como adotam uma relação com o alimento de forma não saudável. Esses fatores podem contribuir para a instalação de hábitos nocivos e de crenças limitantes com relação à alimentação.


Aliada aos aspectos da educação familiar segue-se a inserção no meio sociocultural, a relação profissional, a escolha das diversões e as diversas crenças com relação à felicidade. Tais componentes dificultam a escolha por uma mudança no estilo de vida, essencial para quem deseja emagrecer e manter o peso corporal saudável.
Não é necessário, no entanto, descartar as relações sociais existentes, mas aprender uma maneira de mantê-las sem prejudicar sua própria saúde. Entretanto, é desejável a adoção de outras atividades que possam conduzir a uma vida mais saudável. Não se de trata de suprimir todas as atividades prazerosas, mas de ampliar o leque de opções com inclusão de alternativas mais benéficas. 
 
Psicológicos


Diversos fatores psicológicos, cognitivos e comportamentais podem influenciar nos padrões de alimentação e de atividades físicas, dentre eles destacamos:

  • Imagem corporal – A imagem corporal se relaciona com a autoestima, a autoaceitação e as crenças sobre o corpo ideal, bem como com a imagem gravada no cérebro e representativa de nosso corpo.

  • Crenças limitantes – As crenças limitantes estão arraigadas no inconsciente e atuam como preservação de hábitos e dificultadores na obtenção dos objetivos de emagrecimento. Por exemplo: “ser gordo é sinal de saúde”, ou “ninguém pode ter tudo na vida” ou “quando se está bem é sinal que vem alguma desgraça” etc. Nesses casos o inconsciente pode utilizar a obesidade como forma de proteção.

  • Hábitos – Ao longo dos anos estabelecem-se alguns costumes que podem não se mostrarem eficientes na manutenção do peso ideal.

  • Ansiedade – A ansiedade leva, por compensação, as pessoas a buscarem nos alimentos uma redução da tensão emocional.

  • Estresse - Durante o período em que se está estressado o organismo produz mais adrenalina, elevando as taxas de açúcar no sangue. Para reduzir a quantidade excessiva de açúcar se produz insulina, transformando-o em gordura. Dessa forma cria-se um ciclo vicioso: estresse ® adrenalina ® insulina ® gordura. 

  • Depressão – Em pessoas deprimidas ou com outros tipos de privação emocional a comida pode atuar de modo compensatório, favorecendo cronicamente o ganho de peso.

  • Autopunição – As pessoas que exercem uma censura rígida quanto aos seus códigos de valores, não se permitindo erros, podem ser levadas à necessidade de se autopunirem quando suas atitudes, pensamentos e desejos estão em desacordo com sua filosofia.

  • Assertividade – a falta de assertividade pode dificultar ao indivíduo agir em conformidade com sua vontade e acabar por não cumprir o que estabeleceu para si mesmo. Ao não ser capaz de impor limites aos outros, muitas vezes também não os impõe a si mesmo, facilitando ceder às tentações que queria evitar.

  • Medos – A função do medo é a preservação da cada um, levando a buscar a proteção ou a evitar as situações perigosas e ameaçadoras. O problema ocorre quando esse medo é deslocado para alívio de tensões.

  1. São comuns casos em que a obesidade está ligada a abusos ocorridos na infância, tanto físicos quanto sexuais, o que pode ocasionar o medo pela intimidade;

  2. A insatisfação na relação conjugal ou com a sexualidade, inconscientemente, pode levar a obesidade como forma de evitar a infidelidade;

  3. O medo relacionado às crenças limitantes, ou seja, se temos uma crença de que “ser gordo é sinal de saúde” gravada no inconsciente, temos o medo de que se emagrecermos ficaremos doentes.

Quando essas questões não estão totalmente elaboradas podem atuar como freio às pretensões de um emagrecimento saudável. 


Conclusões


A obesidade é um problema complexo, que deve ser resolvida de modo adequado, respeitando-se as características individuais. Lançar mão das dietas da moda ou de dietas radicais, pode até surtir algum efeito, mas dificilmente garantirá que o emagrecimento seja por um longo período de tempo. Para emagrecer e permanecer magro é necessário um ajuste em todas as áreas relacionadas acima, de modo que se atinja um equilíbrio corpo-mente. Algumas pessoas são privilegiadas em sua constituição física, pelo menos com relação ao ganho de peso, mas igualmente necessitam cuidar de manter uma alimentação adequada, manter-se em atividade e cuidar do equilíbrio psicológico. Pois estar magro não significa necessariamente que esteja em plena saúde, já que uma alimentação desequilibrada pode gerar alterações significativas no organismo. 

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