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Síndrome do Pânico

Márcio Antonio Altilio Moreira
Psicólogo - CRP 04/13451

Definição

Segundo o DSM-IV “a característica essencial do Transtorno ‘(ou Síndrome)’ de Pânico é a presença de Ataques de Pânico recorrentes e inesperados, seguidos por pelo menos um mês de preocupação persistente acerca de ter um outro Ataque de Pânico, preocupação acerca das possíveis implicações ou consequências dos Ataques de Pânico, ou uma alteração comportamental significativa relacionada aos ataques” (p. 423)

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“Um Ataque de Pânico inesperado (espontâneo, não evocado) é definido como aquele que não está associado a um ativador situacional (isto é, vindo do nada). Os ativadores situacionais podem incluir estímulos externos (por exemplo, um objeto ou situação fóbica) ou internos (por exemplo, estimulação fisiológica) ao indivíduo. Em alguns casos o indivíduo pode não identificar um ativador situacional, embora presente. Por exemplo, um indivíduo pode não identificar imediatamente a maior estimulação autonômica induzida por um aposento quente e abafado ou sensações de desfalecimento produzidas por levantar-se rápido demais como ativadores para um Ataque de Pânico.

Para caracterizar um Transtorno de Pânico é necessária a ocorrência de pelo menos dois Ataques de Pânico, embora normalmente se tenha um número consideravelmente maior. A frequência dos ataques varia um pouco, alguns podem tê-los mais frequentemente (uma vez por semana, por exemplo) e que se prolongam por meses. Outros citam ataques breves mais frequentes (por exemplo, diariamente em uma semana), separados por semanas ou meses sem quaisquer ataques ou com ataques menos frequentes (por exemplo, dois por mês) durante muitos anos.

Os indivíduos com Transtorno de Pânico apresentam, caracteristicamente, preocupações acerca das implicações ou consequências dos Ataques de Pânico. Alguns temem que os ataques indiquem a presença de alguma doença não diagnosticada e ameaçadora à vida, por exemplo, uma cardiopatia ou transtorno convulsivo. Apesar de repetidos exames e garantias médicas, eles podem permanecer temerosos e não se convencer de que não têm uma doença ameaçadora. Os ataques são percebidos como uma indicação de que estão enlouquecendo ou perdendo o controle, ou de que são emocionalmente fracos. Alguns indivíduos com Ataques de Pânico recorrentes mudam significativamente seu comportamento (por exemplo, demitem-se do emprego, evitam esforços físicos) em resposta aos ataques, mas negam o medo de terem um outro ataque ou preocupações acerca das consequências de seus Ataques de Pânico. As preocupações acerca do próximo ataque ou suas implicações frequentemente estão associadas com o desenvolvimento de esquiva que pode satisfazer os critérios para Agorafobia, diagnosticando-se, neste caso, um Transtorno de Pânico com Agorafobia.

Ataque de Pânico


O DSM-IV relaciona 13 critérios para se diagnosticar um Ataque de Pânico, mas aqui relataremos apenas os mais frequentes, uma vez que nosso objetivo não é favorecer um auto-diagnóstico, o que deve ser realizado por um profissional de saúde mental, mas sim permitir uma compreensão sobre a problemática. As sensações físicas que comumente acompanham os ataques são: palpitações (coração acelerado), suor excessivo, sensação de sufocamento, dores ou desconforto no tórax, náusea ou desconforto abdominal, tontura ou vertigem, calafrios ou ondas de calor. Também são comuns pensamentos de medo de perder o controle ou medo de morrer.

A característica essencial de um Ataque de Pânico é um período distinto de intenso medo ou desconforto acompanhado por alguns dos sintomas relacionados acima. O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente, atingindo um pico (em geral em 10 minutos ou menos), sendo com frequência acompanhado por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente e um anseio por escapar.

Tipos de Ataques de Pânico:
Ataques de Pânico inesperados (não evocados) – são definidos como aqueles em que o indivíduo não associa o início a um ativador situacional interno ou externo (isto é, a ocorrência do ataque é percebida como espontânea, “vinda do nada”).

Ataques de Pânico ligados a situações (evocados) – são definidos como aqueles que ocorrem quase invariavelmente quando de exposição ou antecipação do ativador ou evocador situacional (por exemplo, uma pessoa com Fobia Social tem um Ataque de Pânico ao apresentar ou pensar sobre apresentar um trabalho para uma plateia).

Ataques de Pânico predispostos por uma situação – são semelhantes aos ataques ligados a uma situação, mas não estão invariavelmente associados ao evocador e não ocorrem necessariamente após a exposição (por exemplo, os ataques tendem mais a ocorrer quando o indivíduo está dirigindo, mas existem momentos em que a pessoa dirige e não tem um Ataque de Pânico ou momentos em que o Ataque de Pânico ocorre após dirigir por meia hora).

Causas dos Ataques de Pânico

De acordo com o DSM-IV (p. 426), “os parentes biológicos em primeiro grau de indivíduos com Transtorno de Pânico têm uma chance 8 vezes maior de desenvolver o transtorno”. Apesar disso, relata que “em contextos clínicos, observa-se que metade a três quartos dos indivíduos com Transtorno de Pânico não possuem um parente biológico em primeiro grau afetado”. (ibid, p. 426).

Podemos também considerar que os Transtornos de Pânico remontam a experiências anteriores, muitas delas ligadas ao nascimento ou a fatos estressantes experienciados na infância. Algumas outras podem estar relacionadas a eventos traumáticos recentes. Isso acontece porque as memórias traumáticas ficam armazenadas no Sistema Nervoso Central, mais precisamente no sistema límbico-hipotalâmico-hipofisário, em memórias dependentes de estado. Uma vez que estas experiências ficam gravadas tanto na mente quanto no corpo, podem ser acionadas quando ocorre algum evento que reúna sensações semelhantes as que aconteceram no momento do trauma. Embora o indivíduo possa não se recordar do evento traumático, essa estimulação sensória ativa o sistema límbico-hipotalâmico-hipofisário que libera os hormônios ligados ao estresse. Em razão de a sensação ser tão intensa provoca no individuo horror semelhante ao original, embora sem a percepção de algum fato estressante.

Assim, a predisposição genética atuaria como um agravante na instalação dos sintomas do pânico, mas também não podemos desconsiderar os condicionamentos comportamentais e os aspectos cognitivos associados. De acordo com Grunspun, “os medos condicionados, que podem facilmente evoluir para ansiedade, estão relacionados às atitudes do ambiente familiar e social: preocupação exagerada dos pais, ansiedade, superproteção, discriminação e rejeição.” (p. 78).

Comorbidades

Muitos indivíduos com o transtorno relatam sentimentos de ansiedade não relacionada a nenhuma situação específica. “Esses indivíduos também toleram menos os efeitos colaterais de medicamentos e em geral precisam de contínuo reasseguramento, a fim de tomarem os medicamentos” (DSM-IV, p. 424). Também pode ocorrer antes, durante ou após o aparecimento do transtorno, quadro de depressão. Do mesmo modo podem concomitantemente apresentar sintomas de Fobia Social, Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG) ou Transtorno Obsessivo-compulsivo (TOC).

Tratamento

Os profissionais que lidam com esse transtorno são médicos psiquiatras ou neurologistas, que prescrevem medicação para melhorar os sintomas do pânico. Em muitas situações, sem essa ajuda, não é possível se levar uma vida normal. O auxílio psicoterápico, no entanto, pode ser a forma derradeira para conduzir à cura completa. Dessa forma, é ideal que o paciente faça um tratamento conjunto com medicação e psicoterapia.

Psicoterapia

A maioria das terapias acessa as memórias através da fala, que é uma elaboração que utiliza a região cortical do cérebro, enquanto as memórias traumáticas encontram-se armazenadas no sistema límbico-hipotalâmico-hipofisário, que faz parte do cérebro primitivo, ou no próprio corpo. Para ter acesso a essas memórias é necessário que se utilize uma abordagem que alcance o cérebro primitivo de modo a dessensibilizá-las ou descarregá-las e permitir o livre fluxo dos impulsos nervosos. Como essas memórias são ativadas através de certas percepções, tais como, imagens, sons, cheiros e sensações corporais, essas se tornam a porta de entrada para acesso ao cérebro emocional. Assim, a utilização do EMDR, Brainspotting ou hipnose tem obtido excelentes resultados na superação desses traumas.

Alguns profissionais tratam o transtorno de modo incompleto, seja ensinando os pacientes através de técnicas de respiração, que aliviam os sintomas, ou promovendo o tratamento apenas em níveis cognitivos e/ou comportamentais. Embora possam reduzir os sintomas ou mesmo obter a cura total através destas técnicas, em outras circunstâncias não promovem o alívio completo, pois o paciente necessita sempre estar com o controle cognitivo da situação, para conter o processo do pânico. Os tratamentos através do EMDR, Brainspotting ou hipnose visam à elaboração do material traumático de modo a promover sua despotencialização a fim de que deixe de ter poder perturbador. Dessa forma, mesmo que o paciente acesse as memórias elas não trarão mais nenhuma perturbação, deixando-o livre para assumir o curso de sua vida.

Como cada indivíduo é único e possui necessidades diferentes, vale salientar que muitas vezes a utilização dessas técnicas pode obter a remissão completa dos sintomas em poucas sessões, mas pode haver necessidade de se trabalhar os aspectos cognitivos e comportamentais para o fortalecimento do indivíduo e prevenção de recaídas.

Bibliografia

  1. ARASI, Diana et al. Trauma e EMDR – Uma nova abordagem terapêutica. Brasília: Nova Temática, 2007.

  2. DSM-IVTM – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. trad. Cláudia Donelles; – 4ª ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  3. GRAND, David. Cura emocional em velocidade máxima – o poder do EMDR (dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares). Brasília: Editora Nova Temática. 2007.

  4. GRUNPUN, Haim. Crianças e Adolescentes com Transtornos Psicológicos e do Desenvolvimento. São Paulo: Atheneu, 1999

  5. LEVINE, Peter A. O Despertar do Tigre – curando o trauma. São Paulo: Summus, 1999.

  6. ROBLES, Teresa. Concerto para quatro cérebros em psicoterapia. Tradução de Manuel Angel Valencia Rodrigues. Belo Horizonte: Editorial Diamante, 2001.

  7. ROSSI, Ernest Lawrence Ph.D. A Psicobiologia da cura mente-corpo. Tradução de Ana Rita P. de Moraes. Campinas: Editorial Psy, 1997.

  8. SHAPIRO, Francine. EMDR – Dessensibilização e reprocessamento através dos movimentos oculares. Brasília: Editora Nova Temática, 2007.

  9. TenDan, Hans. Cura Profunda. São Paulo: Summus, 1997.

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